Mais de 1 milhão de meninas engravidam todos os anos no Brasil e as principais causas são a falta de orientação dos pais e educadores e de perspectivas de vida.
Segundo dados do Ministério da Saúde, no Brasil, a idade média das meninas que engravidam é de 15 anos e 9 meses.
Entre 2003 e 2009, o número de partos em garotas de 10 a 19 anos caiu 20% – o que dá indícios de que a informação está chegando e sendo disseminada entre os jovens.
Diversas pesquisas ligadas ao
tema mostram como a gravidez nesta faixa etária pode destruir sonhos e
atrapalhar a vida das jovens. A Federação Brasileira de Ginecologia e
Obstetrícia mostrou que apenas 30% das mães precoces frequentam a escola com
regularidade, sendo que 57% delas abandonam os estudos para dar à luz e somente
27% voltam a estudar depois de 6 meses.
Outra pesquisa, feita pela Escola de
Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP), mostrou que a maior preocupação
entre essas mães não é cuidar dos filhos (isso elas até fazem com prazer): o
problema é perder a vida social, as festinhas, os amigos e até o namorado.
“Quando descobri que estava
grávida, queria desaparecer, morrer. Eu pensei até em abortar, mas tem muita
história de menina que morre fazendo isso. Minha mãe ficou muito brava, porque
eu sempre tive orientação em casa. Eu sentia vergonha, murchava a barriga,
atravessava a rua quando via um conhecido. Fui assumindo aos poucos. Hoje sinto
muita falta de sair pra me divertir, pra ver meus amigos”, conta Jéssica*, 17
anos, mãe do João*, agora com seis meses.
Jéssica ainda amamenta e, por
isso, não voltou a menstruar. Mas quando desmamar o menino, já sabe o que
fazer. “Vou no posto de saúde buscar pílula, não quero ter outro”, diz a garota,
que voltou para a escola no mês passado e pensa em cursar biologia marítima na
faculdade.
Para a coordenadora de saúde do
adolescente e do jovem do Ministério da Saúde, Thereza de Lamare, os adultos
não vêem o adolescente como um ser sexuado. “A adolescência é a fase em que as
pessoas descobrem e começam a ter relações afetivas. Não adianta imaginar que
os filhos não praticam atividades sexuais. Portanto, a prevenção começa em
casa”, defende.
Para a ginecologista Sylvia
Mello, especialista em adolescentes, é importante que os pais levem a menina ao
médico logo depois da menarca (primeira menstruação). “É quando a menina já
está apta a engravidar. Mas pode ser até antes, quando surgem pelos pubianos e
seios. É um profissional que esclarecerá dúvidas pontuais e acompanhará toda a
vida sexual daquela menina”, aconselha.
Mas essa conversa não é só de
menina, não. Os meninos também têm que se cuidar. “Se eles não têm noção da
responsabilidade que é ter um filho, não vão insistir para que o casal use a
camisinha, por exemplo”, justifica Sylvia. “E ninguém faz filho sozinho. A
responsabilidade deve partir de ambos”, completa.
Uma das falhas identificadas
durante as aulas do Kaplan é a falta de perspectiva entre os jovens,
principalmente os de classes mais baixas. “Você tem que mostrar a ele que ele
pode sonhar, ter um futuro, uma vida profissional boa, e que uma gravidez pode
atrapalhar todos os seus planos”, ensina a educadora Maria Helena.
*Os nomes foram trocados para
preservar a adolescente e a criança
Orientações e prevenção
“Existe uma infinidade de métodos
contraceptivos disponíveis hoje, mas é importante haver orientação médica e
responsabilidade na hora de usá-los também”, afirma a educadora sexual Maria
Helena Vilela. São comuns os casos como o de Cristiane, que tomava pílula “tudo
errado” e engravidou por isso.
Segundo a educadora, uma das
principais barreiras entre o jovem e o posto de saúde (que fornece de
camisinhas a implantes) é a vergonha. “Muitos adolescentes vivem no interior, e
a mulher que distribui a camisinha é conhecida da mãe dele, então ele prefere
fazer sexo desprotegido a enfrentar a timidez e ir lá pedir”, explica Maria
Helena. “O ideal é que eles percam a vergonha, conversem com os pais sobre isso
e busquem o remédio ou a camisinha, porque isto é um direito”, frisa.
Fonte: Folha Universal
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