Teorias da Comunicação - Os Sociólogos, as Teorias e o Conceito de Massas.*

Para os estudos da Sociologia da Comunicação, o surgimento do conceito de sociedade de “massa” é fundamental para evolução das teorias de comunicação. Assim, neste primeiro capítulo, veremos algumas dessas teorias.

Comecemos por Gustave Le Bon que, em 1895, estudando movimentos políticos, sinalizou a importância do esboço do conceito de “massa”, pois indicava que, da origem das multidões das camadas mais populares, surge o movimento irracional de massa que seria o seu modo de comportamento natural.

Esse aspecto da confrontação “natural”, desorganizada e violenta dessas camadas populares é explicado, por Le Bon, como sendo um atributo psicológico dessas categorias ao apontar que a “alma da massa” se manifesta em rebeliões da parte reprimida dos indivíduos atribuindo, assim, um caráter impulsivo, não racional da psiquê das massas. Neste sentido, Mattelart (2008: 25) indica que Bon “antes de tratar da psicologia das massas, teorizou sobre a psicologia dos povos, fazendo do fator racial elemento determinante da hierarquia

das civilizações”. Freud valeu-se das análises de Le Bon advertindo que “nas massas não há só instinto, mas produção” (MARTIN-BARBERO, 1995: 50).

Freud ainda contesta a ideia da “tirania da sugestão” para que uma pessoa seguisse os impulsos irracionais da massa de uma maneira influenciada pela ocasião. Pois, “se o indivíduo isolado na multidão abandona sua singularidade e se deixa sugestionar pelos outros, fá-lo porque nele existe a necessidade de estar de acordo com eles, mais do que em oposição, fazendo-o, talvez, afinal de contas, por amor a eles” (MATTELART 2008: 26).

A academia americana, até a primeira metade do século XX, tinha como referência os estudos de Rerbert Blumer (1939), considerado o mais importante teórico pelas suas observações em relação à mídia e aos movimentos sociais. Blumer indicava, pela primeira vez, a importância de elementos que só seriam mais visíveis algumas décadas depois para o estudo da Sociologia da Comunicação, como o caso da influência da mídia nos “modismos da sociedade”. No entanto, Blumer sinalizava que os fenômenos de uma sociedade de massa e seus comportamentos se explicariam porque os indivíduos se encontravam isolados, amorfos. A massa era vista como um todo uniforme, linear e por isso absorveriam os modismos da mídia.

Segundo Wolf (1987), o surgimento das teorias da sociedade de massa corresponde a um dos primeiros momentos do esforço das doutrinas para compreender a influência dos meios de comunicações junto ao grande público. O interesse dos estudiosos, desse período, centrava-se no entendimento dos aspectos psicológicos das ações coletivas; sendo que um tema central se destacava – o da propaganda. Para esses autores, a comunicação da mídia atuaria como estímulo sobre os indivíduos receptores e que, de uma forma passiva, aceitariam as informações, constituindo uma massa de consumidores da propaganda comercial ou até mesmo política.

Nos anos 1940, as teorias de massa atingiram seu auge, sobretudo nos Estados Unidos. Em 1948, Lasswell publica a teoria que ele vinha trabalhando, desde os anos 1930, que analisava o conteúdo das mensagens da propaganda. Ele também estudou os efeitos da propaganda sobre a audiência, os papéis do comunicador e do receptor. Outros autores que se destacaram sobre o mesmo tema foram Fromm (1941) e Kornhauser (1959).

Assim, a noção de cultura de massa passa a ter uma importância bastante considerável na lógica do consumo industrial, uma vez que, das prerrogativas do mercado, a “possibilidade” de cultura e público cruza uma dimensão de consumo até então sem distinção. Pelo menos, se é que podemos denominar assim, este foi o ideal concebido por alguns espíritos “generosos”, que concebiam a lógica do mercado industrial dos anos 1930, seguido pelos neo-liberais dos anos 1950.

No entanto, esta mesma dinâmica de estrutura social também criou a diferença em escala global – o poder de compra do consumidor, criando, por sua vez, castas sociais e culturais.

Nos anos 1960, Daniel Bell destaca o papel do cinema, da televisão e da publicidade no processo de socialização dos indivíduos, dando destaque à cultura e aos meios de comunicação como mais importante que a política. Outras teorias foram elaboradas entre os anos de 1960 a 1980 sobre mídia e sociedade como as teorias com ênfase nos processos de transmissão das mensagens: as subsequentes decodificações ( JAKOBSON, 1971; SCHILLER, 1983) e as teorias da semiótica (ECO e FABRI, 1978).

A partir dos anos 1990, na era da informação, o debate sobre a cultura de massa tomou outros rumos. Passa-se a falar mais em termos de cultura das mídias, cibercultura dentre outras. Há uma desocialização da cultura de massa e uma separação entre cultura e economia. 

Para Touraine (1997: 12), “a cultura de massa penetra no espaço privado, ocupa uma parte dele e, como reação, reforça a vontade política e social de defender uma identidade cultural, o que conduz ao recomunitarismo”, ou seja, a globalização proporciona um movimento oposto levando os grupos minoritários, mediante as novas redes de comunicação interativa, como o celular, a internet e outras a afirmar as suas identidades e a reduzir as suas relações com o resto da sociedade, transformando um sistema de sociedade de massa para uma sociedade segmentada.

Assim, no século XXI, as expectativas da concepção de uma sociedade de massa opõem-se com o desmentido fato de que não há um público, mas vários públicos. E que tudo tem a possibilidade de interação, formação e informação entre si independentemente da gerência do Estado ou de uma grande empresa de mídia. Ou seja, a informação não está centralizada nem estandardizada, estamos na Era da Cibercultura na qual a mídia não surge apenas como obra maquiavélica de controle das elites sobre a sociedade, como nas teorias de mass media. Mas é também sistema cultural e espaço de conflito, além de controle social.

*Conteúdo oriundo do estudo da caomunicação.

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