Alimentos Livres de Veneno

Brasil ainda é o país que mais usa agrotóxicos, mas produção de orgânicos cresce e ganha espaço em feiras livres.

O Brasil ainda é o campeão mundial no uso de agrotóxicos na agricultura. Mais de 1 bilhão de litros de pesticidas e herbicidas são utilizados nas plantações do País por ano, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para a Defesa Agrícola.

Isso sem contar as quase 200 mil toneladas de fertilizantes artificiais que regam os solos nacionais. O uso ainda é intenso, mas uma parcela da população rema contra essa corrente. São os agricultores orgânicos, que não utilizam agrotóxicos em suas plantações e nem adubo artificial. 

Hoje, o Brasil tem um total de 1,767 milhão de hectares cultivados com orgânicos. No ano passado, o setor faturou R$ 500 milhões, um crescimento de 40% em relação a 2009. Para este ano a estimativa é de R$ 700 milhões. Os números são da Organics Brasil, empresa que une iniciativa privada e entidades governamentais e do terceiro setor. Eles fazem parte de um levantamento baseado em dados de 2006 do IBGE. “Eu plantava morango de modo convencional. Quando usava um terreno, abandonava o outro. Meus morangos estavam horríveis, não cresciam, nasciam doentes. Um dia, fui olhar o terreno abandonado e encontrei morangos lindos, grandes, saborosos. Comprei outro sítio e comecei a plantar orgânicos”, conta o produtor Isaias José Pereira, de 46 anos, de Estiva (MG). Ele vende o produto na região e na feira orgânica que acontece às terças, sábados e domingos no Parque da Água Branca, em São Paulo. 

Assim como ele, diversos outros produtores viajam do interior para a capital e cuidam pessoalmente da venda do que plantam. É o caso de Virgílio Eudes Ramos, de 47 anos, que há 3 anos e meio revende castanha- do-pará em São Paulo. “Vim com família e tudo. Eu via que tinha potencial, mas lá na Amazônia não dão muito valor, não olham para o produto orgânico”, conta. Desde que chegou, começou a testar a versatilidade da castanha e atualmente produz azeite, creme e farofa com a iguaria nacional. “Distribuo para mercados e para clientes, é só encomendar”, afirma. 

É cada vez mais fácil encontrar orgânicos, tanto nas feiras – específicas ou não – quanto nas gôndolas de supermercado. Diversas associações, como a Organics Brasil e a Associação dos Agricultores Orgânicos (AAO), emitem certificados de produção livre de veneno, ajudam na adoção da agroecologia, dão consultoria e colocam em contato produtores e revendedores. 

“Vemos os orgânicos crescerem tanto pela procura quanto pela necessidade do agricultor de trabalhar com uma cultura mais limpa. Mas ainda faltam políticas públicas de incentivo para que o produto se torne popular”, aponta Márcio Stanziani, secretário- executivo da AAO. O orgânico pode ser mais caro devido ao processo de produção, aos certificados que exige, à mão de obra e aos adubos (também orgânicos) que consome. Mesmo assim, a busca por produtos mais saudáveis, livres de agrotóxicos e com mais nutrientes tem aumentado. “Faz 2 anos que eu venho na feira. O sabor é diferente, não tem agrotóxicos que acumulam no meu corpo e temos uma relação direta com os feirantes”, diz Danilo Bifone, de 35 anos, funcionário público. “A questão do preço é variável. As frutas e legumes da estação não chegam a ser muito mais caros do que os comuns. Se o consumidor buscar direto com o produtor, na feira, o preço pode ser igual ao convencional”, diz a professora Sonia Stertz, presidente da Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos do Paraná. “A vantagem é que o orgânico é mais nutritivo, seu consumo reduz a ingestão de substâncias químicas nocivas, além de diminuir o impacto ambiental e a qualidade de vida do agricultor”, completa. 

Quanto ao risco de contaminação, como o visto com brotos de feijão na Alemanha em junho passado, quando mais de 30 pessoas morreram, a professora é categórica. “Não há evidências científicas de que os orgânicos têm mais risco de contaminação. O que existe é interesse das grandes corporações de agrotóxicos e fertilizantes em denegrir esse sistema de produção”, destaca. Os orgânicos, apesar de livres de agrotóxicos, também devem ser bem lavados antes do consumo. 
Fonte: www.folhauniversal.com.br

Um comentário:

Roberto disse...

Eu gostaria de saber se esse Virgílio Eudes Ramos é o mesmo que fornece açaí para a Hinode fabricar as barras de açai liofilizadas.

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