Política chinesa de estímulo econômico pode servir de subsídio ao Brasil


Embora ainda sejam necessárias ações muito mais contundentes pelo governo chinês para adotar um caminho de desenvolvimento menos impactante, o foco e as lições aprendidas no desenvolvimento e implementação do pacote de estímulo econômico dado pelo país em resposta à crise de 2008 podem servir de exemplo ao Brasil.
Em novembro de 2008, o Conselho de Estado chinês (o órgão máximo de decisão do país) decidiu investir $ 4 trilhões de iuanes, o equivalente a aproximadamente US$ 996 bilhões de dólares, para proteger sua economia contra a crise financeira mundial. 
O novo estudo da Rede WWF – Climate and Energy Impacts of China’s Stimulus Package (Impactos climáticos e energéticos do pacote de estímulos da China) – concluiu que o pacote de incentivo da China teve êxito ao impulsionar o crescimento econômico principalmente por meio de investimentos em infraestrutura. Mesmo elevando temporariamente o consumo energético do país, estima-se que esse estímulo trará benefícios de longo prazo para a conservação energética e que seu efeito líquido sobre as emissões de carbono será positivo a partir de 2014.
Os principais benefícios, em longo prazo, surgirão da extensa rede de trem e metrô, reduzindo a necessidade de transportes rodoviários, e de projetos diversos de eficiência energética. Assim, será evitada anualmente a emissão de até 270 milhões de toneladas de CO2. No entanto, será necessário fazer ainda mais esforços para alcançar o objetivo com o qual a China se comprometeu na Conferência do Clima em Copenhague, em dezembro de 2009: reduzir em 40 a 45% as emissões por unidade do PIB até 2020, em comparação com os valores de 2005.
“Há sinais de que o planejamento macroeconômico do governo chinês começa a levar seriamente em conta as emissões de carbono. Precisaremos mais disso no futuro. Todas as políticas de investimento terão de levar em conta a energia e a conservação dos recursos, assim como as mudanças climáticas,” declarou o Dr. Li Lin, líder da iniciativa China para uma Mudança Global, da Rede WWF.
Durante a crise, o Brasil também desenvolveu esforços para suavizar os impactos em sua economia. Foram implementadas medidas de aumento da liquidez (injeção de dinheiro para facilitar sua circulação na sociedade) e estímulo à produção e consumo, este último totalizando cerca de 1 a 1,5% do PIB. No entanto, ao contrário do que aconteceu em países como China ou Coreia do Sul – que direcionou quase 80% do seu pacote de estímulos a medidas “verdes”, especialmente na promoção de tecnologias limpas –, pouca atenção se deu ao aspecto “verde” dos investimentos governamentais brasileiros.
A única ação declarada foi a concessão de incentivos fiscais para equipamentos de linha branca, como por exemplo geladeiras e congeladores. A ampliação no uso de sistemas solares para calefação de águas foi modesta e os cortes dados sobre a produção de veículos automotores foi uniforme, sem a devida consideração de como incentivar o uso mais racional e menos poluente dos veículos próprios. Por sua vez, a expansão e atualização da infraestrutura brasileira, que determina em última instância o caminho que trilhará o país por décadas, quase não considerou questões de eficiência energética, uso de energias renováveis não convencionais e novos modelos de produção.
“Em um momento propício para repensarmos nosso modelo de desenvolvimento econômico, o Brasil perdeu a oportunidade de promover seu crescimento em bases muito mais sustentáveis. Embora já evidencie claros avanços, como mostram os recentes esforços para desenvolver um pacote coerente de políticas e estratégicas de mudanças climáticas, o Brasil ainda pode fazer muito mais”, afirma Carlos Rittl, coordenador do Programa de Mudanças Climáticas e Energia do WWF-Brasil.
“De acordo com dados do governo, o Brasil já havia reduzido, em 2009, 33,6% de suas emissões de gases de efeito estufa em relação ao ano de 2004. Este avanço é louvável, mas falta ainda ao país adotar políticas e estratégicas que lancem o país nesta nova era de baixo carbono, na qual o planejamento de longo-prazo considera explicitamente a sustentabilidade. A China, embora ainda fortemente dependente de energia fóssil, está se tornando um líder no desenvolvimento de tecnologias limpas. O Brasil possui o potencial para espelhar este papel aqui na América Latina”, conclui Rittl.  

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